No planeta, um turbilhão de histórias acontecem a cada
segundo. As pessoas interagem criando uma rede incontável de conexões, poucas
delas se tornam motivos para o audiovisual.
Quando alguém me diz: "Tudo já foi escrito, contado,
filmado" imediatamente penso "quanta estupidez!". Pode até parecer mesmo que sim e quando
comumente essa sentença é atribuída a fotografia, sempre proponho que essa
pessoa fotografe um tema (objeto, paisagem) com intervalos de tempo definidos e
o resultado mostra que nenhuma foto é igual à outra. Há uma mudança entre elas: Um tom, a luz, um movimento aconteceu. O mesmo vale
para seres humanos (é de se esperar). Somos atingidos por todos os lados,
estimulados a cada respiração por eventos dos mais "insignificantes"
aos mais notáveis. A diferença é que enquanto uns enlouquecem, outros se
aborrecem e há aqueles que se divertem e aproveitam, outros seculpam. Muitas
possibilidades, muitas individualidades.
Planeta Solitário parece um troca-troca de cenários onde,
três personagens andam muito e não chegam a lugar nenhum. O filme acompanha a
jornada de um casal, Alex e Nica, noivos prestes a se casar, durante uma “mochilada”
de férias e, para isso, contratam Dato como guia. Assim, os três partem por uma
extensa caminhada pelas montanhas da Georgia.
O filme não propõe apontar a já óbvia fragilidade dos
personagens inseridos na natureza perigosa, mas a fragilidade do relacionamento
do casal. Enquanto a dupla no inicio da caminhada se diverte e contempla a
paisagem e o ser amado, quando o clímax se instaura Nica vê seu noivo se
transformar em um desconhecido, agora covarde e fraco, diluindo a confiança e
quebrando o encantamento da união.
Como não nascemos prontos, precisamos aprender com as
experiências. O casal se separa ou tenta restabelecer, o que for possível,
daquilo que os mantinham conectados?
Nessas carnes humanas tão distintas habitam desvios de
caráter tão profundos, mas perceptíveis, quando não analisados pela ótica da
superficialidade
Os Cascavelletes cantam:"Lobo da estepe, acredito
na tua dor" e por trás da dor só há solidão, a compreensão do outro sempre
é fragmentada, por mais que se tente entender a dor alheia, isso nunca será
interpretado com riquezas de detalhes, porque ela passa pelo filtro das
experiências individuais. O mesmo evento pode infligir dores impares e criar rígidas
oposições.
O filme dói pra quem permanece na zona da superficialidade,
que acredita que o único papel do cinema é tratar da beleza, da jovialidade, do
frescor, da diversão e do entretenimento. Dói porque é insuportável perceber em
nós o mesmo que a tela apresenta: A fraqueza quando as expectativas se esvaem,
os sonhos e as certezas diluídos por eventos tão efêmeros, ser obrigado a
fincar os pés no chão dessa paisagem potencialmente turística, mas
verdadeiramente perversa, selvagem e desconhecida, assim como a natureza
humana.
Não há volta para nossas escolhas .
No fim, tudo o que resta é o instinto. Em seu cerne, o
individualismo, não necessariamente de tom egocêntrico, mas primitivo (como
mecanismo que garante a sobrevivência nesse inóspito lugar) entram em conflito
com aquilo que a tal civilidade propõe, a gentileza e altruísmo. Questões
morais são secundárias. As teorias vêm depois das realidades internas.
As dores são fardos individuais, nós que as vezes insistimos em dividir tudo com outra pessoa pra no final perceber que estamos sozinhos nesse planeta solitário.